sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Foto da gravação no programa dedim de prosa na TV Assembleia


Foto tirada no estúdio de gravação do programa "dedim de prosa" em 03 de dezembro de 2015. Da esquerda para a direita: Wellington Farias, o autor e a produtora Janine Silva.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

FRANCISCO BISPO EM LANÇAMENTO DO LIVRO "O MUNDO DE HENRIQUETA" na ALANE



Lançamento do livro O Mundo de Henriqueta de Francisco Bispo na ALANE em 2013, com a presença de Lau Siqueira, Ricardo Bezerra, Gilson Gondim, entre outros amigos.

FRANCISCO BISPO EM ENTREVISTA NA RÁDIO CBN EM 2009



Francisco Bispo (Zizo de Oliveira)-Entrevista Exclusiva na Rádio CBN com Alessandra Torres-João Pessoa-PB-Parte 1 EM 2009. Autor dos livros: "Mangrulhos" e "O Mundo de Henriqueta". Francisco Bispo é paraibano, natural de Rio Tinto-PB, cidade que serve de inspiração e muitas vezes de cenários para suas histórias.

MINHAS CRÔNICAS - Textos do autor FRANCISCO BISPO(Zizo de Oliveira)


A PROPÓSITO:   (INDEPENDÊNCIA OU SUBSERVIÊNCIA)

Lí  em alguns jornais que os Estados Unidos estão forçando a barra junto ao exercito brasileiro para invadirem a Amazônia sob o pretexto de combaterem o narcotráfico na fronteira, inclusive instalando bases militares na área, com ameaças de boicote ou sanções econômicas ao Brasil, caso não “concorde”com tal pretensão. Já pensou? Nosso território nortista  invadido pelos “heróicos” soldados do Tio Sam? Haveria uma ciumeira danada em outras Republiquetas Sul-Americanas! Quem sabe, depois da destruição da área , seria criada mais uma Aliança para o Progresso? Isto me faz lembrar também fatos ocorridos a algumas décadas atrás mais precisamente no período da Segunda Guerra Mundial.

 Em outubro de 1941, o Embaixador da Alemanha Nazista no Brasil, envia telegrama ao Ministério do Exterior, relatando que “o Brasil estava vivendo  um crescente nervosismo”, em face das eleições presidenciais nos Estados Unidos e mais nervoso ainda, estava o chefe de polícia, Felinto Muller, que em conversa com o Ministro da Guerra, e o Chefe do Estado-Maior,  disse que só seriam salvos de demissão, se  a Alemanha de forma fulminante, derrotasse a Inglaterra, e ao mesmo tempo, Roosevelt  não obtivesse êxito em suas perspectivas. Segundo o documento diplomático, o Brasil enfraquecia a cada dia por força do apoio da imprensa à  propaganda Ianque. É bem verdade porém, que em 11 e 25 de junho de 1940, o Presidente Vargas em discursos pronunciados perante círculos navais definisse a política brasileira como neutralidade total, discursos aliás, contestados pelo Estados Unidos que até tentaram uma reinterpretação  encorajada inclusive, pelo Ministro  Osvaldo Aranha. Como a Alemanha Nazista fazia severas críticas ao Banco do Brasil que desfazia contratos a reboque de sua administração sem consultar o governo, também mostrou-se satisfeita ao saber que o Presidente trataria diretamente de negócios e política com seu embaixador sem que o Banco do Brasil pusesse “areia”. Só não poderia excluir das negociações o seu ministro das Relações Exteriores, o que tranquilizaria o III Reich. Ainda conforme o Embaixador Nazista, em 06/06/41, o Presidente  Vargas considerando que Roosevelt  já o pressionava em função de sua possível simpatia ao III Reich, pretendia atender um convite de visita aos Estados Unidos. Para tanto, o convidou  ao seu gabinete  sem o conhecimento do seu Ministro do Exterior para propor ao Governo Alemão, ser seu mediador na questão bélica.     Levada a questão ao III Reich, seu Ministro do Exterior, Ribbentrop, simplesmente agradecia mas “o Reich” não precisava de intermediários para resolver seus problemas políticos. Ao ouvir  a resposta Alemã através do Embaixador Pruffer, o Presidente Vargas que o recebera secretamente, com a ajuda do seu irmão, pediu que êle saísse sem visto pelo Ministro do Exterior que estava sendo anunciado.  Em 24/10/41, consta que Lehmann W.Miller(general americano), apresentou ao Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra e ao Chefe do Estado-Maior Pedro de Goes Monteiro, as “exigências” do seu governo para utilização urgente dos “Portos do Norte do Brasil, como Bases Navais Americanas e implantações de enormes estoques de alimentos, combustíveis, munições e máquinas e ainda implantação de Docas para reparos e, alojamentos para o pessoal militar americano que se deslocaria para cobrir a área. Tal imposição “democrática”no entanto, foi rejeitada pelo Ministro da Guerra  Eurico Dutra. O general  indignado pela resposta negativa, ameaçou com ocupação militar. O Ministro de forma exaltada afirmou  mais uma vez que os brasileiros viveriam nas mais primitivas condições, mas não  cederia a indepenência do seu país para bases americanas e, que daria inclusive, ordens para abrir fogo se os Estados Unidos desembarcassem tropas sem solicitações prévias do Brasil. O general Miller então ameaçou: certos pró-nazistas(Dutra,Goes Monteiro e Felinto Muller) estão opondo-se aos pedidos dos Estados Unidos, portanto, seu governo exigirá o afastamento dessas autoridades sob pena de represálias ao Brasil num prazo de 24 horas cortando-se inclusive, o fornecimento de gasolina, entre outras coisas . Nessas circunstâncias, o Presidente Vargas chamou o embaixador americano Caffery e disse-lhe que quem governava o Brasil e tomava decisões a seu respeito era êle e não os Estados Unidos. No entanto, campos de pousos para aeronaves americanas foram construídos. Evidentemente, ao compararmos atitudes governamentais das décadas de 40 e 90,( propositadamente excluímos os governos militares por terem sido ditaduras exclusivas onde o Congresso era mais submisso aos desmandos), sentimos que a  História provou que o Nazismo era um blefe, mas,o Brasil não precisava se subjulgar tanto aos anseios  dos Estados Unidos para satisfazer ao seu instinto imperialista. Nem naquela época, nem agora.


Francisco de Oliveira Bispo

João Pessoa-Pb.

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AMOR
                                                                                                         Zizo de Oliveira
“Com breves palavras minhas” ouso escrever estas linhas à sombra do nobre poeta que me engrandece e me afeta, no rasgo do meu conhecimento quando me dedico ao amor. Amor que desabrocha de maneiras tão estranhas, que mal percebemos as manhas dos entes no bem querer.  Meu fôlego de iniciante nos versos toma coragem e num lampejo só, tento falar diferente do amor que estou pra ver. Pensando desta maneira, costumo observar, que a natureza nos dá, em toda forma de vida, um exemplo de como viver. Não precisa ser humano para o amor acontecer. Diante da afirmação, passo a descrever meu olhar na direção de um ninho, lá onde arrulhos de carinho começam a acontecer. A primeira ave se aproxima de um poste iluminado, observa ali parado tudo que pode ver.  A segunda também chega, tem o mesmo arrulhar, talvez como aprovação ao primeiro que chegou nada tendo que mudar. Diante deste fato, eu começo a perceber que ali naquele poste algo vai acontecer. São sete horas da manhã, uma fraca neblina cai o primeiro pássaro sai voando não sei pra onde, mas gostaria de saber. Trinta segundos se passam a segunda ave voa numa outra direção esta também pude ver. Eis que a primeira ave volta, com um graveto no bico. A segunda chega também. Ambas vão se emaranhar nos fios que o poste tem.  O frenesi cresce na produção do aconchego. E o amor está no ar. Afirmo sem preconceito ele aparece de repente, nem precisa de gente, nem precisa de jeito. Ele aparece simplesmente. Nos fios frios de um determinado lugar, o amor se fez presente e nem pediu para chegar. Se isto não é amor, não sei o que mais será. Vaidoso que fiquei pelo fato ali presente, confesso que minhas lágrimas eu não pude evitar. Mais vaidoso fico quando semanas depois aparece não mais arrulhos de amor, mas o amor em espécie. São dois filhotes ariscos que, à porta do ninho vem, mostrando ao mundo enfim, que o amor é infinito e ele por si só se produz, sem a intervenção de ninguém.
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ANDARILHO.                                         

                                                                                 Francisco de Oliveira Bispo    

                                                                                
Num dia qualquer, numa linda primavera onde os ipês que rodeiam os arredores do município onde moro começam a se enfeitar de amarelo e roxo despertando paixões aos jovens (e aos mais velhos também. Por que não?). Eu, Josué, com casamento de 40 anos bem vividos com Dona Santa, já quase aposentado, e prestes a começar a arrastar os chinelos pela casa o dia todo, todo dia, estou neste momento passeando pelas ruas de minha cidade, ao mesmo tempo em que procuro relatar fatos e atos da população e da vida pulsante de todo aglomerado em que vivo. Com aproximadamente 30 mil habitantes, minha cidade é uma típica cidade de interior como qualquer outra do país. Tem igreja matriz. Tem cinema (transformado em cine teatro com um nome pomposo de Orion. Tem a praça da matriz, também, onde os jovens buscam nos finais de semana algumas emoções no dialeto da paquera. Tem o parque de diversões que ainda sobrevive à custa de crianças cujos pais ficam ansiosos observando de longe enquanto bebericam ou apenas fazem lanches nos bares em redor da praça, com medo que algum equipamento se quebre. Tem até congestionamento, onde os mais abastados e abastardados também, desfilam suas máquinas roncadoras assustando os transeuntes ou ciclistas e motoqueiros que, tentam driblar o trânsito que já começa a ficar caótico feito o de cidade grande. Mas a minha cidade também tem poesia. Tem uma bela serenata, ainda ao luar, praticada por jovens apaixonados. Um maravilhoso gorjeio da passarada que habita as matas circunvizinhas, também tem. E a poesia das crianças? Não existe igual. Existe poesia mais linda do que o chilrear das crianças? Pra mim, não. Enfim, minha pequena cidade é um aglomerado urbano com certeza, mas toda brejeira e caipira no seu jeito de ser. Não é que tem hospital que faz até ressonância magnética? Pode? Pode. Por que não? Ora, Ora. Tem casa de luz vermelha, onde os incautos? Vão bater ponto. Tem vaquejada no dia 7 de setembro para premiar vaqueiro destemido, mesmo havendo desfile das escolas com as meninas enfeitadas e fantasiadas a caráter. Tem mortuária para facilitar a caminhada para o céu. E tem novenas em várias ruas com suas procissões características. Pois é, também tem uma delegacia. Quem sabe? Um dia você pode precisar. Ah! Ia me esquecendo! Também tem telefone público. Na realidade esse equipamento parece que já está ficando ultrapassado. Não existe o celular? Minha cidade é assim. Igualzinha a sua. Umas coisas mais. Outras coisas menos. Mas com uma característica bem parecida. Caipira e desconfiada. Linda, pacata, hospitaleira onde os compadres ainda se respeitam. E tem tantas outras coisas que agora não me lembro, pois nesse momento, depois de caminhar bastante, estou tomando um belo banho de cachoeira num ponto turístico ainda gratuito. Coisas do interior. A minha cidade por ser uma cidade sem muitos crimes, ainda conserva em várias ruas, clubes recreativos onde são realizadas algumas matinês, e se dá ao luxo de fazer rifa de galetos nas festas. Dá pra acreditar?  Pois é. Tem ainda no único campo de futebol    onde existe, um campeonato cujas partidas são realizadas nos finais de semana. Mas para você que está lendo o que escrevo aqui, preste atenção ao que lhe digo. Se estiver longe da sua cidade, vai bater um pouquinho de saudade, não vai? Mas, se estiver na sua cidade e nada disso você possa usufruir, acho que você ficará um pouco melancólico e frustrado. Portanto exerça sua cidadania. Participe do progresso de sua cidade. Faça acontecer. Você verá que as coisas fluirão numa melhor qualidade de vida. Como isso é possível? Em primeiro lugar, goste de você e dedique-se aos estudos para não ser enganado por espertalhões. Em segundo lugar, seja participativo. Não fique parado esperando. Corra atrás do seu presente e do seu futuro! Mas, não se sinta desprestigiado, se nas primeiras tentativas, não conseguir lograr êxito. Tente outra vez. Tente tantas e quantas vezes forem necessárias. Pois o seu engrandecimento como pessoa cidadã, trará benefícios para você, sua família e sua cidade já que os graus de conhecimento de seus habitantes refletem no desenvolvimento de qualquer cidade.  Nós seres humanos temos a grandeza de nos adaptarmos a qualquer circunstância. Seja no asfalto ou no interior de terra batida. E sabe por quê? Porque ainda somos seres incompletos. Sempre estamos em busca de algo mais. Sempre buscamos nos completar. Do que? Às vezes nem sabemos. Mas queremos. Isso é um fato. Não estou tentando filosofar, acredite. Eu por exemplo, sinto falta de algo para completar minha felicidade. Mas será que existe felicidade plena ou apenas felicidade aparente? Não sei. Nem estou aqui para lhe fazer entender isso. Busque você seu momento feliz, transmita esse momento para sua família e verá que seu estado de espírito se transformará. Prosseguindo meu papo com você, digo-lhe que ao sair da cachoeira, voltei a caminhar pela cidade para descobrir afinal o lugar onde nasci me criei e não tinha percebido que era tão belo e aconchegante, pois na minha cabeça só havia tempo para trabalhar, trabalhar e trabalhar. Também não percebia que houvesse tantos problemas. Portanto, eu disse comigo mesmo! Chega! Chegou a hora! Já perdi tempo demais. Vou buscar informações ou pelo menos saber, como funciona minha cidade. Estou concluindo esse raciocínio ao chegar à ponte que faz interligação direta com o mangue, na parte leste da cidade. Ah! Ia me esquecendo. Minha cidade está localizada no litoral norte do Estado. Faz fronteira com um imenso manguezal. Disso eu sabia. Mas não conhecia a vida dos ribeirinhos. Falta de tempo talvez. Ou não havia interesse? O fato é que a vida nos leva a padrões de relacionamentos tão diferentes, que às vezes esquecemos ou queremos esquecer nossas raízes mais singelas. A ponte em que me aproximo tem rodagem normal para os veículos e paralelamente passagem reservada para os pedestres e ciclistas. Caminho, portanto, na parte que me cabe e começo a perceber no mangue lá embaixo, principalmente nas margens, pequenas moradias e várias embarcações ancoradas e amarradas a algumas estacas fincadas na lama. Parei e fiquei olhando por um bom tempo aquela paisagem pitoresca pra mim. Eu que nasci nessa cidade, cresci, estudei, trabalhei, casei, tive filhos e criei todos eles, não conhecia aquela realidade. Não conhecia ou não queria conhecer? Pois é, fiquei surpreso com o que vi. Confesso que fiquei constrangido em ignorar tal célula da minha sociedade. Eu não devia ignorar tal fato. Afinal nasci também às margens de um rio, ou melhor, de um riacho, mas, não tinha mangue. Vivi na modéstia da vida humilde por mais de vinte anos, o que me daria bagagem suficiente para não me espantar com a pequena favela lá embaixo na beira do mangue. Mas fiquei. E de tão admirado com o quadro, que decidi atravessar a ponte e ir conversar com os habitantes do lugar. Tenho bastante tempo pra isso. Estou em gozo de minhas férias regulamentares com o trabalho que exerço em um órgão governamental. Daí, como bom andarilho que sou nesse momento, não tenho hora marcada para meu retorno à minha residência. 
– Boa tarde! -Tentei falar com alguém na primeira casa que me deparei - Ô de casa! Tem alguém aí? – Insisti - Essas foram minhas expressões com o morador de um barraco construído à beira do mangue todo ele, em madeira cujas marcas das enchentes das marés estavam registradas no assoalho e nas paredes da palafita. Ali estava uma coisa que eu via sempre que por ali passava, mas fazia de conta que  não era importante saber.
– Quem está aí? Perguntou-me uma voz de homem acompanhada de uma tosse cheia de pigarros característica de quem é fumante.
- Olá amigo, sou morador do outro lado da cidade e como estou de férias do meu emprego resolvi fazer algumas caminhadas por lugares que ainda não conheço. O senhor se incomodaria se eu lhe fizesse algumas perguntas? Quero lhe dizer antes de qualquer coisa que as perguntas e as respostas serão aplicadas em meu proveito particular num estudo de mestrado que estou fazendo e o senhor poderá se recusar a colaborar. O senhor a quem me apresentei diz que se chama Vasco da Cruz, pescador de profissão e tem quarenta anos (Por Deus! Aparentava sessenta ou mais). Ele é casado com d. Amélia, 39 anos, doméstica e tinha cinco filhos.  Obviamente por se tratar de uma palafita, seu barraco ficava mais ou menos a uns três metros do chão o que dificultava nosso diálogo. Ainda mais com o sujeito lá em cima na soleira da porta de saída, de cócoras, olhando para o horizonte, sem dá a mínima para minha presença. Ele embora não fosse mal educado, não me convidou a subir a escada fixa no lado esquerdo da casa para podermos conversar. Enquanto eu estava desconfortavelmente pisando na lama, olhando pra cima sentindo dores no pescoço toda vez que teria que perguntar alguma coisa, o dono da casa permanecia imóvel visualizando alguma coisa sobre o leito do rio. Já pra terminar a entrevista, ele começou a descer os degraus que o separavam da terra (ou da lama) para apertar minha mão. Em nenhum momento, no entanto, me convidou para entrar em sua casa. Também não perguntei o motivo desse gesto. Fiquei satisfeito com as respostas e me afastei do lugar já que a noite se aproximava. Peguei um taxi e retornei pra casa.
Dia seguinte, voltei para minha caminhada seguindo diretamente para o sítio de meu primo Ariosto, situado nos limites do município na zona rural oeste. Avisei a minha esposa que havia telefonado pra ele me oferecendo como turista invasor dos seus domínios para tentar junto à sua família durante três dias, conhecer melhor todo o seu meio de vida no campo. Chegando lá, a pé, pude perceber no caminho que a “zona rural” da minha cidade não era tão “rural” assim. No distrito em que mora o meu primo, as casas já eram de alvenaria de estilo moderno, tinham enormes varandas, estavam todas bem pintadas, e todas com energia, antenas parabólicas e orelhões na rua principal de chão batido. Postes distribuídos com várias redes de energia elétrica. Iluminação pública no quarteirão etc. Enfim, quase todo o conforto que se supõe existir na área urbana. No primeiro dia de minha estada, acompanhei o primo e sua família até o roçado de sua propriedade onde colhemos feijão verde, maxixe, quiabo e fava para o sustento semanal da família No segundo dia, eu me sentei na varanda em frente a um poste com seu emaranhado de fios tentando visualizar o horizonte que se estendia por quilômetros adiante até uma imensa colina a perder de vista, pois estava chovendo uma pequena garoa e naquele momento e eu não iria fazer pesquisa de campo. Foi então que percebi um pequeno barulho que vinha do alto do telhado da varanda. Levantei o olhar e não vi nada que justificasse tal fato. Acontece que alguns segundos depois, o barulho foi ficando mais intenso e parecido com batidas de asas. Então me levantei da cadeira, me aproximei da beirada da varanda, olhei pra cima novamente e então pude ver lá em cima do poste instalado bem em frente á casa, nos emaranhados dos fios, a causa do barulho. Nos fios ali instalados formando uma espécie de teia, estava uma pequena ave saltitando sem parar com um graveto no bico tentando colocá-lo no ninho quase pronto - eu acho – e todo amarrado naquele monte de arame. De repente, outra ave da mesma espécie pousou no mesmo local também com um graveto no bico e praticando o mesmo ritual. As duas aves de vez em quando entravam na pequena caverna produzida por eles como se estivem testando sua segurança e sua comodidade. E de tanto trabalharem, construíram um ninho bem robusto com diversos gravetos, reforçados com pedaços de algodão. Após os retoques finais começaram a preparação da alcova. Creio eu. Pois não paravam de entrar e sair trazendo apenas pedaços de algodão. Confesso que ao assistir tal empenho me deixou emocionado e pensei comigo. Isto sim é um verdadeiro ninho de amor! Feito de forma harmoniosa a meu ver, a construção tinha sido produzida com estilo rústico, porém com muito bom gosto. Afinal era um excelente aconchego, evitando inclusive que as duas aves se molhassem apesar da garoa que caía. Localizado num segundo andar do poste com ampla visão para a planície, de vez em quando as duas aves punham a cabeça para fora a observar se realmente estavam sozinhas. Ah! O amor! Que maravilha de se ver! – Pensei comigo mesmo - Num universo tão imenso, bastou um lugarzinho perigoso até mesmo cheio de fios frios para se construir e amar. Num reservado lugar onde a paixão destempera sem frieza e sem pudor. O amor é isso. É voar no infinito e encontrar o ser amado que às vezes está do seu lado. Basta você perceber. Vislumbrando a cena em que os dois pássaros entravam várias vezes no ninho recém-construído como a examinar se realmente a morada estava pronta, não me contive. Tomei a liberdade de escrever em meus pensamentos, imaginando uma placa pendurada na parte superior da entrada do ninho: CUIDADO! NÃO PERTURBEM! BEM-TE-VI EM LUA DE MEL!  
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COISAS PROVINCIANAS


O cérebro humano tem uma capacidade de nos pregar peças de maneira inacreditável. Lembro-me que há algum tempo atrás uma senhora de porte emergente gerou um reboliço nacional ao realizar e transmitir pela televisão  uma festa nababesca para seus cachorros e amiguinhos, em sua luxuosa residência. Que besteira! Qual é a novidade? E para que o espanto? Ou será que o povo realmente não sabe que desde o invento da televisão a humanidade passou a assistir todo tipo de aberrações que, todos nós sabemos, sempre existiram na sociedade, só que nunca haviam sido mostradas? É evidente, que aos mais humildes a televisão reserva aspectos às vezes, curiosos de miséria, de marginalidade ou de pieguice. No mais, tudo é manchete, show, espetáculo, concorrência pelo crédito do telespectador. E a coerência das classes dominantes que entre si, disputam o “Status Quo,” ”é de uma elegância até entre os diferentes. (Cães, Gatos, homens etc.) Por acaso nós vimos algum gato de beco, cachorro vira-lata, algum sem teto, sem terra ou favelado na festa da ditosa senhora? Claro que não! Então devemos ficar tranqüilos. Nós que somos povo (muito comum hoje em dia), jamais seremos notícias ou apareceremos na televisão se nós não pertencermos (ou não coabitarmos com tal estirpe) a que pertence  aquela classe de cachorros e gatos. E fiquem sabendo todos os outros incomuns, que até em casa de pobre estes animais formam sua casta. Não acreditam? Se um parente ou amigo tiver um animal da mesma espécie e que seja de estimação, procurem menosprezá-lo para ver o que acontece! A madame tem razão: aos de sua classe, todo o carinho, aos pobretões, o direito de assistir pela televisão o espetáculo e bater palmas com inveja de não poder fazer a mesma coisa com o seu pulguento  (mesmo sem classe). E não venham me dizer que ela é esnobe. Ela só está tendo o direito de se exibir e mostrar a nós (povo), que a fome que assola o País, pra ela nada representa  se  for comparada com a necessidade de se exibir, do seu cãozinho predileto, o seu duvidoso pedigree. O seu mundo é sua cachorrada. O resto é o resto!  Além do mais, a globalização está aí pra isso mesmo, e é preciso que todos vejam que ela e seus animais são diferentes sim! O povo é que pensa que é igual ou superior e não percebe ou não quer perceber sua insignificância perante criaturas tão importantes na economia e na vida social do País. Não duvido nada se essa criatura com a influência que tem, qualquer dia desses, solicitar do governo providências no sentido de se modificar o linguajar das pessoas pobres ou de classes sociais diferentes dos seus animais e obrigá-los a latir e miar ao invés de falar como ser humano comum. E olhe que ela já ensaiou algumas frases de parabéns com alguns amigos chegados e deu certo! E  digo mais!  Se a emergente for a um médico da mesma classe social, ele dirá com toda certeza que ela não estará doente. Nem mesmo com Raiva! Os outros é que não entendem seu estilo de vida. Mas é bom tomar cuidado, pode ser perigoso às pessoas indefesas que porventura queiram imitá-la. Esse comportamento pode ser confundido com doença grave sem diagnóstico aparente ou conclusivo. Por outro lado, doença desconhecida tem o poder de uma epidemia. E também é preciso ter bastante cautela quando alguém gostando do que viu tentar fazer alguma coisa parecida. Ou seja, promover festas ou saraus do mesmo gênero para não ter que pagar direitos autorais ou royalty. Aliás, sem compararmos o mau gosto pelos seres humanos, num passado recente, um indivíduo austríaco, em determinado momento, dava ordem para trucidar milhares de pessoas e depois se refugiava no Berghof do Obersalzberg para acariciar sua cadela Blondi e regozijava-se sua atitude de homem carinhoso com o seu animal semelhante que fazia Au!  Au! 

Francisco Bispo

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ERA UMA VEZ...

Uma vasta extensão de terra onde predominavam os pântanos, as várzeas, os morros e se praticavam a monocultura. Um dia, eis que surgem em certo tempo, pessoas de culturas diferentes, hábitos diferentes que invadem e desvirginam as entranhas desses alagados acordando-os de suas “Sestas Eternas”. A preguiça dá lugar a um trepidante batalhão de invasores que ao ouvir o chamamento dos seus novos “donos”, acorda na transformação que se impõe. E aterram-se os seus baixios, os seus pântanos e invadem os morros. E pelo desvirginamento de sua monocultura, nasce uma chácara imensa dividida por interesse dos seus ”dominadores”. Mas, acontece que esses dominadores não queriam apenas uma chácara, precisavam de um feudo onde muita gente pudesse trabalhar e se manter sob os seus controles. Para isso, recrutaram novos aventureiros para servirem de vassalos e o alagadiço mudou. Chegaram verdadeiros batalhões que, ao comando de ”trabalhar, construir e progredir”, ergueram-se olarias, casas, pontes, favelas, fábricas enfim, uma “grande cidade” que cresce cada vez mais, progride e estrutura uma nova forma de vida. Um novo “Eldorado” surge dos mangues e arredores onde só se trabalhava. E, com o passar do tempo, os “senhores” foram substituídos por herdeiros ambiciosos que desfrutavam dessa “Mina de Ouro”. E Surgiram clãs que disputavam o poder de dirigir a comunidade que se tornou tão “ordeira e trabalhadora”. Surgiram também, novos tipos de posseiros: os politiqueiros, pessoas inescrupulosas que prometiam acabar com o monopólio dos desbravadores, pois o “povo” precisava libertar-se do feudo. E esse “povo” sentindo-se oprimido, acreditou. E a preguiça pantanosa que se transformou em metrópole de várzea, começou a sonhar com mudanças aceitando intrusos que se diziam libertadores do julgo dos invasores e escolheu pessoas para administrar a cidade em benefício da comunidade, mas, descobriu que essas pessoas só administravam os seus próprios bens. Tudo ficou confuso, e decidiu-se criar uma força pública de caráter militar para que a ordem fosse estabelecida e se escolhesse também, dentre os elementos da força, um líder para governar e salvar a memória da Pátria iniciada. Triste memória, triste Pátria. O logro foi bem maior. E o poder foi transferido para o povo que não soube dominá-lo e por sua vez, o transferiu para alguns grupos, e a nova Pátria, caiu em decadência. Mas, eis que a democracia começa a acordar de sua hibernação e atinge os brios da “Flor dos Pântanos” chamando-a para a realidade política e  alertando seus habitantes para a responsabilidade que se apresenta na escolha de seus representantes políticos e dessa vez o povo toma consciência e vota escolhendo mais uma vez seu representante máximo. Mas, a comunidade cresceu, os espaços territoriais foram gradativamente sendo ocupados aumentando a responsabilidade política e administrativa. Criaram-se, portanto, vários feudos onde os politiqueiros podiam agir com independência, matreirice e interesses diversos. Ou seja, dividiriam entre-os grupos todas as  regalias  e  benesses,  e  ao povo, imporiam deveres e obrigações. Por outro lado, outros grupos menos predadores, poderiam exercer os poderes de forma também independente, porém, com interesses convergentes, como a participação mais democrática do povo na demanda social e até mesmo política. Mas, a utopia é apenas utopia e a opressão e a impunidade domina os feudos.  Não existindo a quimera por causa da iniqüidade instalada, começaram a surgir pessoas e grupos de pessoas que se associam (partidos políticos), para com objetivos preestabelecidos escolher alguém que pudesse “libertar” a esperança presa nos anseios da população. Nessa verdadeira quermesse de qualidades e virtudes começam a surgir os “bons samaritanos” com bandeira própria ou importada onde tentam transparecer que a corrupção só irá existir até a vitória de sua corrente política (depois a corrupção existirá apenas no seu grupo). Outro, nada diz por que nada tem ou sabe dizer ou resolver, quer apenas aparecer. Há ainda, outro grupo que tendo sido corrupto no passado, tenta passar à população, uma nova forma de administrar com competência já que (imaginam) que a memória do povo é fraca e pode mudar a história a seu bel prazer. E o povo participa, aplaude, vaia, fica indiferente, acredita e vota na esperança que nesse “faz de conta” a história não registre mais uma vez a burla da eleição e que o voto realizado escolha finalmente, alguém que possua defeitos que sejam criticados, qualidades que sejam aplaudidas e acima de tudo, que, o povo não caia no conto do “era uma vez” outra vez. Mas, mesmo assim, a nação evolui, criam-se modernos meios de comunicação e o caos social diminui. Surgem “castas” com diversos graus de poder de decisão, na política, na economia, na cultura, na educação e, sobretudo, na mídia, instrumento primordial para demonstração de poder, fanfarrice, e inutilidades, utilizada com freqüência por pessoas sem escrúpulos, com escrúpulos, com vergonha, sem vergonha e principalmente pelos cínicos, criaturas acima de qualquer senso comum, com extrema dificuldade de desenvolver também o senso moral. E assim, o novo país se torna detentor de coisas provincianas e inúteis que servem de currículum na formação do seu patrimônio maior: o ser humano.

FRANCISCO BISPO
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A  FÉ E A FOME


De vez em quando somos acometidos de sentimentos mesquinhos e hipócritas de tal forma que perdemos completamente a razão de ser no seio de uma sociedade competitiva onde acumular bens é sinônimo de poder. É verdade que um conjunto de fatores contribuem para essa idolatria ao bem material, como falta de amor ao próximo, sentimento de poder sobre os outros, egoísmo e ganância e talvez falta de religiosidade para enumerar alguns. No entanto, acredita-se até, que  o homem nasce cresce tenta desenvolver seu trabalho necessário à sua formação cristã indo a igrejas ou participando de uma religião qualquer e chega a acreditar que Deus existe e sofre com intenção de  oferecer sua ajuda, sua cooperação, aos chamamentos cristãos em busca de um ideal de conforto aos que porventura sofrem muito mais. (neste contexto não estão incluídos os vigaristas que exploram a religião para afanar bens de outros) Não importa pra ele inclusive, que nos Estados Unidos um animal qualquer tenha privilégios acima dos que são oferecidos à raça humana. Não importa mesmo. Lá eles são iguais. Tanto é, que no Continente Africano a população está sendo dizimada pelo vírus da AIDS e lá nos Estados Unidos, estão gastando até 100 mil dólares para curar um animal de quatro patas. Mas, a África é pobre não pode se dar ao luxo de gastar tal quantia por um ser humano.  Porém, o homem continua perseverante em sua luta pela igualdade de direitos, de oportunidades, de sobrevivência. Mestre Jorge Leite era assim: puro, sincero, trabalhador cumpridor dos seus deveres. Crente de não perder uma missa nos finais de semana. Até das novenas participava. Segundo João Batista Fernandes em seu livro “O Extinto Rio Tinto” Mestre Jorge era um sujeito legal. Do seu relato a respeito, extraímos o seguinte: Nos idos de 1930 numa segunda-feira qualquer, estava mestre Jorge  trabalhando em sua bancada de “ encanador”   quando de repente, adentra em sua oficina um empregado da “Casa Grande” a mando do mordomo-chefe, dizendo:

- Mestre Jorge, o senhor tem que ir até à “Casa Grande” com toda possível urgência, endireitar umas torneiras que foram quebradas por ocasião do banquete oferecido pelo Coronel Frederico, nosso amo e senhor, ao excelentíssimo e muito digno Interventor do nosso Estado - Dr. Carlos de Lima Cavalcanti – que Deus o guarde!  

Era do conhecimento de Mestre Jorge que em 1930, Getúlio Vargas havia nomeado o Dr. Carlos de Lima Cavalcanti, como Interventor do Estado de Pernambuco. E este, já no poder, recebeu um convite do Coronel Frederico João Lundgren para comparecer a um banquete, na “Casa Grande” em Paulista, oferecido a ele, Interventor. Ele aceitou é claro! E o repasto foi realizado num dia de domingo com direito a todo tipo de mordomia oferecido pelo dono das Lojas Paulista.

Mestre Jorge ouviu aquilo! Preparou sua ferramenta e foi atender ao chamado. De fato, haviam mesmo umas torneiras quebradas. Na verdade, houve excesso de chaleirismo por parte do empregado. Mesmo assim, mestre Jorge não perdeu tempo.  Trabalhou feito doido para deixar tudo pronto o mais rápido  possível. Já perto da hora do almoço, notou que uns xeleléus passavam por ele conduzindo uns tachos grandes, bem cobertos e que daqueles tachos rescendia um olor digno de qualquer voraz apetite. O que seria aquilo? Já não agüentando mais de tanta fome e ainda tendo que sentir continuamente o cheiro dos tachos que não paravam de passar, mestre Jorge com a boca cheia de saliva já sonhando com a possibilidade de poder mastigar aquela gostosa iguaria, pergunta:

-          Meus amigos me digam uma coisa: o que é isso que tanto cheira aí dentro desses tachos!?
-          É carne, mestre Jorge. Carne das boas, destinadas aos porcos do nosso muito amado Coronel Frederico!
-          Carne?
-          Sim, carne, como lhe disse: quer ver, repare!

Mestre Jorge olhou. Antes não tivesse olhado! Dentro daqueles camburões estava tudo quanto era belo em matéria de alimentação! Perus lindamente assados, peixes grandíssimos, capões, galinhas, filés e quanto mais manjares! Tudo nem tocado...

- Me diga, por favor, uma segunda vez, amigos meus: disseram que essas comidas vão  mesmo pra onde!?

-          Para os porcos do coronel, mestre Jorge. Todos os dias, também não é assim, não. Hoje os porcos vão lavar a burra porque sobrou tudo isso ontem, do festim oferecido pelo nosso coronel, ao excelentíssimo senhor Interventor do nosso Estado!

Onze horas em ponto, mestre Jorge larga o serviço da “Casa Grande” – para voltar à uma hora – e parte em direção de casa. A casa que morava ficava longe! O sol, naquele dia, estava mais do que nunca quentíssimo! Aquele dia para o mestre Jorge estava ruim  mesmo: nem banho tomou ao chegar em casa, porque os meninos tinham arrancado o chafariz  que existia nas imediações de seu cubículo, com cano e tudo! Sentou-se o mestre Jorge em  um tamborete bastante corroído pelo cupim ao redor de sua mesa, um tanto empenada,  esperando que a mulher lhe trouxesse o almoço. A  mulher lhe trouxe o almoço. Que almoço... Os caroços de feijão que vieram no prato, não davam pra jogar uma onça! E puros! Então o mestre Jorge lembrou-se do manancial que viu destinado aos porcos do coronel e chorou... Com o choro veio a fúria! Alucinado, doido, joga o prato contra a parede com os míseros caroços de feijão, quebrando e derramando tudo, e desde então até morrer, deixou de acreditar em Deus, em caráter definitivo! Simplesmente...

FRANCISCO BISPO
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MALANDRAGEM  POLÍTICA
  
É incrivelmente curiosa a maneira como a população é manipulada pelos políticos ou governantes em qualquer parte do mundo e em qualquer tempo. Há governos, por exemplo, que ao se elegerem com maioria qualquer, consideram-se de tal forma donos do poder que não importando a direção que sigam, começam a manifestar distúrbios organizacionais a partir da própria formação da equipe de mandatários. Ou seja, a seu bel prazer, fazem verdadeiras loterias de cargos (principais), para o devido controle dos destinos daqueles que os elegeram. E, não é à toa, que alguns se dizendo democráticos, criam suas fantasias particulares fazendo-se acreditar à população, suas intenções honestas de forma a subestimar até, a inteligência daqueles que, não se deixam influenciar por tais artimanhas. Não é raro também, se observar que na maioria das vezes os governos tenham uma política nefasta direcionada aos servidores públicos. Por exemplo: quantas vezes se houve falar por qualquer governo que se instale que o “Estado” não tem condições financeiras para melhorar o salário de seus funcionários. Por outro lado, se houve falar também, que os auxiliares diretos (aqueles que têm a incumbência de controlar os servidores), não raro, têm a cada três meses (na média), aumento dos seus fartos vencimentos e vantagens a base de 90% no maior escárnio fora as diárias de turismo e seminários comprometidas em campanha aos patrocinadores de aglutinação de votos, como se fossem verdadeiramente, os seres mais inteligentes e capazes do poder público, sangrando  vergonhosamente os parcos numerários do erário a ponto de deixar o “Estado” e não o governo, em lastimável condição de massa falida. E o servidor (ou funcionário) como fica nesta estória toda?  Se votou no governo, cai na besteira de acreditar no que dizem os barões do 1º,2º e 3º escalões etc. Se votou contra, revolta-se com a injustiça instalada. Nos dois casos, ambos tendem a cair nas mãos dos agiotas de plantão, para tentar sobreviver a cada mês, até não suportar mais e partir para o suicídio (em alguns casos), o que não resolve o problema é claro, pois a herança maldita do aperto salarial transfere-se de tal forma miserável para seus familiares, que sofrem verdadeiro massacre junto aos “órgãos competentes” para conseguir receber suas míseras pensões que na maioria das vezes, sofrem reduções do valor anterior pago ao coitado suicida.

 Malgrado todo este mau-caratismo, ainda se dão ao luxo de invocar aos barnabés (aqueles que não têm parentes nos escalões superiores do poder), uma cruzada de patriotismo ou de sacrifício ainda maior para que o “governo” possa resolver os problemas graves do povo! É muito cinismo!
Como se tais problemas não fossem técnicas de manipulação criadas pelos próprios politiqueiros que se engalfinham na luta desleal pelo poder, gerando verdadeiros bolsões eleitoreiros em forma de exploração da coisa pública em benefício de meia dúzia de aves de rapina acostumadas a deglutirem o que de melhor o Estado produz, deixando à população, uma fatia de amarga esperança em que, eles próprios (os políticos), possam a qualquer momento desenvolver programas milagrosos que venham suprir as necessidades do povo enganado, caracterizando assim, a bondade do administrador público. Assim sendo começam a aparecer programas “milagrosos” para a saúde, para a educação, para a agricultura etc., etc.

Porém, o que realmente se detecta, é que, durante o período em que um grupo político está governando (4 ou 5 anos), só aparecem programas, programas e programas até o penúltimo ano de governo, quando enfim, termina o estágio da exploração da fé humana, onde todos os governos sem exceção, começam a realizar obras de fato, pois sendo aquele período considerado o de véspera de eleição, toda revolta da população expressada nos anos anteriores será esquecida pelos cidadãos que estão ansiosos para exercerem o direito de votar “democraticamente” nos novos políticos considerados salvadores de tão escabrosa situação. Embora o ciclo vicioso continue, pois os políticos que estão saindo apresentam parentes e amigos para prosseguir na sua batalha pelo “bem estar” do povo, ao mesmo tempo em que este mesmo povo também parte para mais uma batalha eleitoreira, incauto e esperançoso de que agora os tempos ruins vão se acabar, pois desta vez se escolherá gente honesta para um governo de boa qualidade. E a hipocrisia se eterniza atingindo a todos que estão vestidos de palhaço, dentro do circo globalizado, embora todos estejam na platéia. No picadeiro, apenas as intenções.   Só rindo e muito!

FRANCISCO BISPO
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NEPOTISMO
                                                                                                              Zizo de Oliveira

Ariosto era, segundo seus conceitos, um sujeito sério, trabalhador e acima de tudo honesto. Na manhã do dia 19 de abril de 2011, estava se preparando para ir até a cidade de Riacho Limpo - cujo prefeito era um primo seu por parte de mãe – quando viu da janela de sua casa, três carrões pretos que se aproximavam do terreiro. De dentro, saltaram alguns homens de farda preta com enormes metralhadoras nas mãos. Devia ser sete horas da manhã.
- Ô de casa?  Ariosto ouve um chamado seguido de palmas em frente à porta.
- Ô de fora!  Responde e dirige-se à sala para receber os visitantes inesperados.  Ao abrir a porta, Ariosto se depara com sete homens enormes, todos vestidos com farda militar preta. O que parecia ser o comandante se apresenta com um papel nas mãos e diz:
- Bom dia!
- Bom dia! – Responde Ariosto – com as mãos enfiadas nos bolsos da calça.
- O senhor Ariosto está? Pergunta o policial.
- Sim senhor. Sou eu – responde-lhe Ariosto estendendo a mão ao policial que o cumprimenta. 
- Muito bem, sou o delegado Emerson da polícia Federal e trago aqui uma ordem judicial para prendê-lo e levá-lo até a capital para esclarecimentos.
- Prender-me? Por quê?
- Lá na delegacia explicaremos melhor. No momento o senhor está sendo acusado de usufruir do cargo de direção que tem na prefeitura de Riacho Limpo para enriquecer ilicitamente.
- Primeiro por ser parente do prefeito caracterizando nepotismo. Segundo foi constatado malversação do dinheiro público já que o senhor consta como diretor de políticas públicas junto ao gabinete do prefeito e neste caso desviou muito dinheiro para seu benefício próprio.
- Mas senhor. Eu não sou funcionário da prefeitura. Também não sei ler. Eu só aprendi a assinar meu nome para poder votar em meu primo e o bem que eu tenho é esta casa e o roçado, lá embaixo na várzea.
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O CÉU DE DOLORES

- Apaga a luz meu amor! Não vê que estou criando coragem para juntar-me de uma vez por todas a você?
- Faz o seguinte: liga a televisão e desliga todo o resto, basta uma pequena penumbra para me encorajar. Verifica também se naquela estante ali do canto da parede existe algum cd ou DVD e põe no aparelho de som em suave altura, para me fazer sair dessa letargia medrosa, pois você sabe que desde que me separei de Ariosto, não fiquei nua na frente de ninguém.

- Não existe cd nem DVD? Ok. Então não fique aí em pé me observando que já estou ficando nervosa. Ah! Presta atenção: sente-se ali na cabeceira da cama enquanto tento ir ao toalete me trocar ok? Isso, amor... Não se mexe, assim que estiver pronta virei para o quarto e me mostrarei para você.

- Sabe amor, estou me lembrando do dia em que nos conhecemos na praia de Tambaú. Lembra-se daquele dia? Você estava sentada em uma mesa numa daquelas barracas de praia cercada por vários amigos no maior bate papo bebendo cerveja se não me engano.  Aproximei-me apenas para pedir uma garrafa de água mineral, para poder iniciar minha caminhada de costume ali naquela área. E sem querer, olhei pra você que percebeu meu olhar e também se fixou em mim. Pois é, quase morri de medo quando descobri seu olhar. Ali, naquele instante percebi que chegara a minha hora de ter ao meu lado uma pessoa digna do meu amor. Amor esse que eu já imaginava não existir mais em meu coração para dar a alguém.

- Tá me ouvindo bem aí no quarto? Vou deixar a porta entreaberta ouviu?

- Ouvi sim. Pode continuar meu bem.

- Pois então. Sabia que o único homem que me viu completamente nua antes de você foi o meu ex-marido Ariosto?  Não. Acho que não. Acho não. Tenho certeza porque que eu me lembre até essa data nada contei a você de minha vida particular. E olhe que já estamos namorando há quatro meses, não é? E lhe digo mais. Não é de minha formação saí por aí feito louca chamando atenção das pessoas. Quero lhe dizer meu amor, que mesmo sendo apaixonada por você, resguardo-me dessa ousadia de nudez total até mesmo pra você a não ser agora um momento especial para selar o nosso romance.

Como eu ia lhe dizendo, o meu ex teve esse privilégio, até porque nós nos casamos e eu teria que me despir pra ele.
- Meu bem! Estou quase terminando, estou saindo do banho e vou agora me preparar para nossa noite inesquecível espere só mais uns minutinhos. Mas continuando nossa conversa, quero lhe dizer também que vivi um verdadeiro inferno durante o período do meu casamento com Ariosto. Quer saber?  Pois então feche os olhos e imagine um indivíduo estupidamente ciumento, casado com uma menina de 16 anos que não podia sequer vestir uma minissaia. Nem mesmo para passear. Quanto mais, para ir às festas. E ainda por cima ter que aguentar sua bebedeira quando estávamos com amigos. Isso era vida?

Eu lhe respondo. Não era. Bem! Está prestando atenção no que estou falando?

- Estou sim! Pode continuar. Também estou me preparando. Fique tranquila temos a noite toda ok? 

- Então tá. Como eu ia dizendo, eu não podia fazer nada do meu gosto, pois Ariosto logo interferia e me criticava. E olhe que fui criada dentro de regras rígidas exigidas pelos meus pais e pela igreja. Já que eles são muitos religiosos e como eu era medrosa e insegura acabava obedecendo a eles sempre pautando pela sobriedade no meu comportamento. Vontade eu tinha, mas... Pra você ter uma ideia com dois anos de namoro minha mãe insistia para que eu me controlasse no amasso e nos beijos para eu não me tornar uma mulher fácil e devassa. Palavras de minha mãe. Pronto! Terminei de me maquiar, agora trocarei a lingerie e correrei para seus braços. Ah! Ia me esquecendo de outra coisa. Nunca permiti durante o período de namoro que Ariosto enfiasse suas mãos entre minhas coxas. Eu era muito bobinha. Não era?

Da cama veio apenas um hum.... Hum... Com sinais de fadiga.

- Você cansou de ouvir amor?

- Não!. Não!. Tudo bem. Prossiga... Continue. Estou na escuta não se preocupe.
 
 - Então meu bem desde esse dia me tranquei em isolamento emocional e comecei a ficar com vergonha de Ariosto até mesmo para fazer sexo, coisa que eu gostava muito, mas já não sentia prazer. Pra mim, ele não me amava. Ele só me violentava. E cada vez me perguntava por que os homens tem que ser assim? Violentos, egoístas e imbecis. E escuta só, tivemos lua de mel com uma intensidade nunca vista e nos prometemos muito um ao outro. Agora, eu acho que  pelo fato de sermos bastante jovens e termos fome excessiva de sexo, talvez agente tenha desgastado esse apetite a ponto de me sentir enojada quando fazíamos amor algum tempo depois,. Entende?

- Claro! Também já passei por coisa parecida.

- É verdade? Mas, você nunca me contou.

- Não achei necessário. Mas agora, o que importa é você, prossiga, estou tomando interesse na sua história.
- Que bom! Você me entende! Aliás, nesses quatro meses em que namoramos, só tenho elogios para você. Embora eu não tenha lhe dado a oportunidade de se aproximar sexualmente de mim. Mas, chegou nossa hora e sei que vou ser muito feliz ao seu lado. Ok?

- Ok. Estou esperando por esse momento ansiosamente acredite!

- Confio muito nisso e tenho certeza meu bem, que daqui pra frente, sairei e esquecerei aquele inferno que vivi ao lado do ex., pois você pelo menos até agora só tem me dado alegrias, compreensão, amor e tolerância. E acima de tudo um céu de compreensão.

E, em seguida exclama: pronto! Já terminei estou saindo. Tudo bem?

- Tudo bem Dolores, pode vir. Também já me aprontei pra você, minha querida. Venha para os meus braços esquecer todas as suas angustias. E Dolores como gata no cio aproxima-se confiante na penumbra do quarto e senta-se ao lado de Estela - seu grande amor - que a espera na beira da cama, com ar de felina pronta para dar o bote, abrindo os braços e recebendo o corpo desejado beijando-o e inalando seu perfume com delicadeza transbordando de  desejo e ao mesmo tempo fazendo Dolores ajoelhar-se  suavemente entre suas pernas também perfumadas, acariciando os cabelos prometendo-lhe amor sem preconceito. 

FRANCISCO BISPO 

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GLOBALIZAÇÃO CAPENGA


Coisa de Mascates.  Sempre que podem,  pé na estrada, bugingangas e cacarecos a tiracolo, e lá vão eles à busca de clientes, nos mais esquisitos que sejam os recantos. No interior é uma festa. Pois, além das vendas, conseguem também, fazer muitos amigos, e para satisfazê-los, sempre viajam às cidades mais prósperas para adquirirem mercadorias da moda e do momento para não deixar cair o seu movimento de vendas e seu ganha pão. Assim sendo, dois amigos  que fazem da profissão uma  verdadeira condição de fé,  partem um certo dia, de uma cidade do interior do estado  com destino a cidade grande para renovarem seus estoques de vendas a varejo. Coincidentemente ou não, ambos  viajaram no mesmo ônibus e consequentemente, como já se conheciam, iniciaram um bom papo a cerca dos negócios de cada um.

-         O amigo Duda, já ouviu falar em globalização ?
-         Globa.. o que?
-         Globalização!!
-         Ah! Sim! Claro!
-         Não é o que a televisão diz que todo mundo pode comprar em qualquer lugar, qualquer coisa?
-         Mais ou menos.
-         Como mais ou menos, amigo  Zeca?
-         É o seguinte: globalização é a descoberta de voçê poder comprar produtos de outros países como se fosse  do seu país, pois voçê não precisa saír  daquí  para adquirí-los. Veja o caso dessas lojas de importados. Antes voçê teria que ir aos Estados Unidos , por exemplo, para comprar quinquilharias que lá são produzidas. Agora não. Basta visitar uma “loja de importados” e comprar qualquer coisa que quiser.
-         É mesmo?
-         Claro!
-         Sei não. Tenho dúvidas. Mas, se voçê garante , pode ser  até que eu acredite.
O papo prosseguia para passar o tempo, até que chegaram em uma cidadezinha após três horas de viagem cansativa, quando o motorista fez uma parada obrigatória para   que os passageiros  pudessem relaxar as pernas e tomar um cafèzinho. Os dois amigos então aproveitaram para conhecerem melhor a cidade e saíram a pé, em busca de alguma coisa que chamasse maior atenção. Quem sabe? Conhecendo melhor aquele lugar haveria chance de fazer no futuro, novos clientes. De repente eis que ao atravessar uma rua qualquer, Duda é atropelado por um carro em alta velocidade cujo motorista, descobriu-se depois, estava embriagado, e estatela-se no chão gemendo de dor. Zeca ao ver o amigo naquela situação, e, ainda incrédulo com o que aconteceu, abaixou-se junto ao amigo e cochichou dizendo que êle não se preocupasse, pois o motorista de tão bêbado, não conseguiu fugir, portanto já estava detido no meio da multidão que se formara para ver a novidade do dia. Inclusive, êle próprio já identificara o nome do sujeito e a marca do carro importado, o único que existia na cidade. Duda num gesto de agradecimento faz sinal positivo com o polegar a ainda sentindo muitas dores pergunta ao amigo: ser atropelado por um carro importado também faz parte da globalização? Chamaram um táxi e Duda foi levado ao hospital da cidade pelo amigo e tiveram que aguardar uns 30 minutos para que alguém se dispusesse a atendê-los visto que já era hora do almoço e quase todos os atendentes haviam por um motivo ou outro, se afastado do ambiente de trabalho. Zeca corria de um lado a outro dentro do corredor principal do hospital, à procura de um médico ou enfermeiro de plantão ou coisa parecida. E constatou depois de tanto perguntar, que haviam três médicos credenciados, só que um saíra para almoçar, outro, visitar sua fazenda e o terceiro estava atendendo um cliente particular e só voltaria a tarde. Até que, um servente sentindo o drama de Zeca, prontificou-se a ajudá-lo indo chamar um “estagiário” que morava nos arredores da cidade para ver o que podia ser feito. Meia hora depois de um convencimento difícil o estagiário começou a trabalhar com toda dificuldade que lhe é devida em hospital do interior para ver se salvava o paciente de um mal maior. Com quase uma hora de atrazo para ser atendido precàriamente e acostumado que já estava a acreditar, principalmente depois da conversa que teve com o seu amigo Zeca, que o atendimento hospitalar seria igual para todos, até porque, na televisão era assim, como no programa “importado” PLANTÃO MÉDICO, Duda chama o amigo ao leito e com medo de ser repreendido por algum  funcionário do hospital,  sussurra : meu amigo, como vítima, posso lhe afirmar com certeza que esse tratamento e esse sistema de saúde  não são globalizados!
  
Francisco de Oliveira Bispo
João Pessoa/PB.
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PAU-DE - ARARA

Era uma viagem longa cansativa e triste. Não importava nem mesmo a paisagem que desfilava lindamente à sua direita e que apresentava um colorido todo especial daquela terra estranha que se via pela primeira vez. Embora ali e acolá, se apresentasse um lindo ipê cuja floração é inconfundível, já que é uma árvore conhecida em todos os lugares onde nascem.
A viagem em si? Monótona. Sem graça nenhuma e cheia de desconforto, pois o ônibus era quase uma sucata. Sujo de fazer inveja a qualquer cascão de revista com algumas poltronas rasgadas. E a viagem só não era pior, porque um passageiro insistia em cantar algo que nem ele sabia e ainda por cima bastante desafinado embora despertasse com o barulho, a   sonolência dos passageiros que por causa do balanço preguiçoso adormeciam. De repente, chega-se à primeira parada para almoço e descanso de alguns minutos e toda condição de desânimo terminou. O aspecto triste e cansativo transformou-se em expectativa e vontade de aparecer, mandar e exigir, pois estava pisando em terras estranhas e, sendo também um estranho, poderia começar a praticar suas prerrogativas de forasteiro e sonhador (sonho embalado desde que decidiu viajar para outras terras a fim de poder mostrar sua capacidade de conhecimento e de esperteza).
Em sua cidade era homem de conhecimentos invejáveis na sua profissão de “quebrador de galhos”, por que não começar a mostrar ali naquela cidade que não era nenhum ignorante? Só tinha um pequeno problema. Não sabia ler. E daí? Quantas pessoas têm o mesmo problema e se dão bem?  Então isso não era coisa de se preocupar. Começaria a mostrar então que poderia se dar bem em qualquer lugar do mundo sem a ajuda de ninguém! E, ao olhar o cardápio em cima da mesa não titubeou em escolher o que estava escrito e relacionado ao número 5 (seu número de sorte). Até estava rindo com a dificuldade dos outros que também tinham o mesmo problema de leitura e ficavam na dúvida no que escolher para refeição. Ele não. Já havia escolhido e ia mostrar aos outros que não tinha nenhuma dúvida quanto a isso.
- Garçom!  Por favor! (e apontando com o dedo indicador para o seu número de sorte e preferido, disse para que todos ouvissem:) - Quero isso! E o garçom com toda sua experiência de atendimento aos Paus-de-Arara de passagem, perguntou com ar de ironia:
- Tem certeza?
- Tenho sim! Pode servir..
É claro que aquele não era o momento de se comer acarajé bastante apimentado, mas que fazer? Não podia naquele momento servir de chacota para seus colegas de mesa que começaram a rir e muito, ao verem chegar a iguaria tão inconveniente para a hora do almoço. Mas enfim, estava feito e ele não voltaria atrás. Todos teriam que saber que era aquilo mesmo que ele havia pedido.
E logo depois a viagem prosseguiu com o ônibus parando a cada meia hora de percurso para alívio do seu estômago maltratado e delírio dos passageiros restantes.

Francisco Bispo

Julho/1995

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(PODER OU NÃO PODER?)

Não me surpreende mais o fato de um deputado qualquer vender a própria alma para adquirir prestígio e benesses nas hostes do Poder Executivo.  Não me surpreende também, saber que o  Poder Legislativo há muito tempo deixou de passar credibilidade à população por causa dos conchavos  que são realizados conforme notícias dos jornais, dos noticiários da televisão etc. De uma coisa eu tenho certeza: este sujeito chamado deputado, não me representa, nem a ninguém, no Congresso. Não foi a  venda de voto, de veto, de alma, que êle prometeu praticar se fosse eleito, na campanha eleitoral em que  se candidatou. Particularmente  fico enojado quando vejo na televisão, homens travestidos de parlamentares, batendo palminhas para o Poder Executivo (um Poder Real e de fato) pelo fato de conseguirem garantir migalhas (ou não?) de sustentação de seus clãs, em detrimento da falsa promessa de defesa da população que os elegeram. Arre Égua! É prostituição pura! (Embora tenha certeza que a maioria não se prostitue). E como ficam os partidos políticos? Será que de fato existem? Ou será mais um engodo para tirar proveito do cidadão comum, que ainda considera o político o único indivíduo capaz de resolver seus problemas? Coitado do cidadão comum. Nunca foi tão ludibriado, tão escrachado!  Chamado de besta até, inclusive com medalha de idiota exposta na testa, ao constatar também, que os partidos políticos na verdade, são  associações de classe que buscam a supremacia do poder pelo toma lá da cá, e não por filosofia e honra de ideais. E o Poder Executivo que não é bobo, deita e rola em cima dos senhores do Legislativo capazes de mudar de cor como o Camaleão. Existe coisa mais ridícula você ler nos jornais que um determinado Presidente de uma Assembléia Legislativa em fim de mandato, teria colocado seu nome para apreciação para uma suposta reeleição um certo dia e, 24 horas depois, comunicar a imprensa que consultando as bases chegou a conclusão que era melhor ceder a candidatura ao líder do Poder Executivo, quando a própria imprensa relata que o indivíduo reunindo-se com o governo aceitou a barganha de continuar prestigiado como líder do Executivo substituindo o líder anterior e seu adversário, ao cargo de Presidente da Mesa? Eu acho que não. Mesmo assim, isto é piaba em comparação aos peixes que navegam nas águas turvas do Congresso. E o eleitor aqui, como fica? Continua a acreditar neste faz de conta? Uma Ova! E não pense que estou fazendo apologia da Ditadura! Deus me livre!!  Queira Deus que o Poder Legislativo aproveite a oportunidade e num futuro próximo consiga encontrar seu objetivo de ser Poder de fato, sem precisar ficar de pires na mão, nem tampouco se travestir de peixe para ser fisgado por  isca gorda do Poder Executivo. Pois esta “bem-querencia” do Legislativo para o Executivo nos mostra algo bastante ruim de aceitar, ou seja: tanto interesse assim, só demonstra que algo desagradável precisa ser escondido.  Tenho certeza de uma coisa: não foi pra assistir estas aberrações que eu votei em deputado. Além do mais,  no Congresso, há muitos homens de bem é só aproveitar a oportunidade e varrer os corruptos de lá, e não, tentar escondê-los.

Francisco de Oliveira Bispo
João Pessoa-Pb.

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PRONTO! E AGORA!

Dia sim, dia não, um grupo de cinco moleques amigos, se reunia lá no rio do ”Gelo” para passar o tempo já que nada tinham que fazer. Chegando lá, sempre havia motivos para as reuniões. Um dia, era para jogar bola. Outro, para lutar Jiu Jitsu, ou ainda para pescar, ou para ver as meninas tomando banho perto do pé de Juá. Nas margens do rio nessa época, existia um imenso capinzal que servia de esconderijo para os moleques criarem suas diabruras de acordo com a diversão do dia. Não escapava ninguém. Todo o grupo tinha que participar. Era questão de honra. Porém, havia uma regra estabelecida entre eles  a cumprir. Tinham que participar antes da programação estabelecida em outra reunião que se realizava em frente ao Cine “Orion” aos sábados. Ali era o local de escolha dos temas que seriam escolhidos e onde se arquitetavam as execuções. Tudo combinado e programado, dirigiam-se no dia marcado para as devidas diabruras. Lá no rio, em certo trecho, costumava-se brincar numa curva de mais de 90 graus provocada por erosão no período das cheias, onde se deitava preguiçosamente de uma margem a outra, um juazeiro que servia de trampolim para os meninos e meninas pularem num delicioso mergulho nas águas límpidas e”geladas”  indo de encontro aos pequenos cardumes de Carás e Piabas que teimavam em nadar naquela parte do  leito onde se formava uma grande piscina, despoluída até então, de qualquer tipo de agrotóxico. Mais abaixo, a uns cem metros, havia um pequeno lago onde as mulheres costumavam lavar roupas acompanhadas de suas filhas. No entanto, as meninas conhecendo as safadezas programadas pelos meninos, fugiam da vigilância das mães e se embrenhavam nos matos pela margem esquerda, para assistirem o festival de palhaçadas promovidas por eles. Era quinta-feira. Lá estavam reunidos todos eles. Tisil, Sambudo, Gogó-de-Sola, Cabeção e Fininho. Todos preparados para mais uma manhã de palhaçada na margem direita do rio e, justamente, em cima do tronco do juazeiro. Um por um, começavam a pular apenas de calção, mostrando cada um, sua habilidade em salto mortal, cambalhotas, ou diversas piruetas. Todos querendo na verdade, impressionar as meninas escondidas na outra margem e que já era de conhecimento deles. O primeiro a pular foi Tisil, que, subindo no tronco, virou-se para os colegas que estavam sentados à margem direita, fez um gracejo e mergulhou com salto mortal contra a correnteza, justamente no local em que a profundidade era de um metro mais ou menos. Aí veio o segundo, Gogó-de-Sola, que se achava o melhor de todos, por ser o mais velho e o mais adiantado na escola, embora todos eles estivessem com idade entre 15 e 16 anos o Gogó se considerava o mais inteligente e esperto, e por isto, gostava de dar ordens nos outros. Depois, pularam o Sambudo, o Cabeção e o Fininho. Tudo correu muito bem na primeira prova. Logo em seguida invertendo a ordem de traquinagem, pularia o Fininho, em primeiro lugar. Ele subiu no tronco que a esta altura da competição já estava bastante escorregadio, fez pose de atleta, abriu os braços como Cristo, e tentou pular. Só tentou, pois escorregou e caiu de costas, justamente sobre um galho seco em forma de forquilha que existia logo abaixo, onde se arranhou na altura da virilha deixando o calção velho de Lycra feito bandeira desprezada pendurado na árvore, para deleite das meninas que estavam escondidas, e que explodiram numa gargalhada só, pegando todos de surpresa e deixando-os roxos de raiva.  Fininho aparece uns três segundos depois, ou seja, apenas a cabeça de fora d’água, pálido mais que de costume, dando a impressão que estava segurando com ambas as mãos, sua pequena genitália olhando assustado para o grupo restante que atônito não sabia o que fazer.Os segundos pareciam uma eternidade pois todos ficaram paralisados e atônitos com o inesperado, quando Sambudo finalmente, despertando do torpor provocado pela cena anterior, cochichou no ouvido de Tisil: Pronto! E agora? Se ele sai pelado do jeito que está, as meninas irão gozar com a cara dele durante uma semana inteira. Se ficar dentro do rio, as piabas vão fazer uma festa no ferimento e imagine onde está ferido! A única solução é a gente pular juntos imediatamente, levando os trapos do calção dele, pois com o barulho, os peixes se afastam dos ferimentos e as garotas não poderão ver nada do Fininho. E assim, todos mergulharam ao mesmo tempo provocando uma debandada das Piabas que já festejavam no “pinto” do colega um verdadeiro banquete, livrando-o de um vexame sem precedentes. Nunca mais depois deste episódio, Fininho quis participar de qualquer brincadeira lá no rio.

FRANCISCO BISPO
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 STATUS QUO

Costuma-se dizer que o sistema educacional na sociedade capitalista é fruto de princípios discricionários onde a classe abastada passa a exercer o controle educacional sobre a classe menos privilegiada (ou trabalhadora), por ser a mais “competente” e a que possui os bens necessários para fomentar subsídios de conhecimentos e continuar dominando. Por outro lado, reforça-se de maneira consciente que a classe menos privilegiada deve continuar sendo “dominada” pois só lhe interessa o trabalho e não pode perder tempo com educação (Destut de Tracy). E aí, entra outro elemento fundamental e norteador capaz de reforçar a desigualdade almejada. A escola. A escola como instrumento de ação da educação, passa a refletir a hierarquização da sociedade, embora se apresente com princípios democráticos onde todos têm “direitos iguais”. Entretanto, os mitos dos currículos explícitos (onde os critérios de avaliação por méritos e prestígios) e os currículos ocultos (onde há absorção da hierarquia e valorização da igualdade em que o sucesso dependerá da capacitação de cada um), representam verdadeiramente a desvinculação do real e do trabalho (Illich). Portanto, pensar, planejar, educar, coordenar, inventar, administrar etc., são “Status” relegados aos menos privilegiados para não interferirem na ideologia do domínio. É compreensível (?), pois, o fato de que politicamente os planejamentos, programas ou projetos em qualquer atividade, partam de um pressuposto onde são direcionados objetivos específicos para manter-se e perpetuar-se em escala crescente, a vontade dos “inteligentes” sobre os demais se evitando assim, uma perspectiva de mudança na ordem estabelecida.
É compreensível (?) também, que a parte que não é ou não pode ser “inteligente” aceite tal filosofia, pois já está “consciente” de sua  incapacidade criativa, inventiva e sobretudo libertadora dos dogmas impostos. Considerando ainda, o fato de não poder participar das informações a não ser como objeto de estudo e não, como agente ativo e transformador. A  inércia planejada não passa portanto, de uma cultura conformista estagnada e sua observação sob ótica crítica poderá ser interpretada como resquícios de frustrações ou ranço do inconformismo. Além do mais, o ciclo vicioso da rejeição por falta de “capacidade” faz crescer cada vez mais o exército dos inoperantes, indivíduos sem perspectivas de vida, porém, “conscientes” do seu papel de sub - elemento no contexto social, pois assim está escrito e assim será feito em nome da inteligência dominante. Será?

FRANCISCO BISPO
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